sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

LIVRO: UMA HISTÓRIA DE FÉ / POR KADRIZY MELLO

  Uma
História de fé



Por Kadrizy Mello


Para Cleber Goulart Mello...
E para você, que está lendo essa singela obra, e que de alguma forma, fez parte dessa história. Seja com um abraço, com uma palavra de conforto, ou pelo simples fato de estar perto. Sinta-se agradecido.
















‘’E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.’’ 
Romanos 8.28




Parte 1 
Antes da cirurgia
1
Havíamos completado exatamente sete meses de casados quando tudo começou. Um tempo extremamente curto. Meu marido, Cleber, atualmente com 28 anos, passou a sentir insuportáveis dores de cabeça. Seu estômago não suportava a sopa mais rala da minha mãe, feita especialmente para ele.
Fomos inúmeras vezes na emergência e em hospitais mais próximos, porém, nada era feito, além da medicação na veia e um hemograma. Ninguém sabia ao certo o que ele tinha. Alguns médicos suspeitavam de gastrite, outros, de uma possível bactéria no estômago, mas ninguém apresentava um diagnóstico 100% confiável.
Certo dia quando estávamos saindo da emergência, o braço esquerdo dele começou a se mexer involuntariamente. No começo, achei que ele estivesse brincando, mas depois, percebi que ele não parou, e a movimentação do braço passou a ficar mais intensa. Pensamos que fosse reação da medicação que ele acabara de tomar, então, voltamos para a emergência imediatamente. Pediram que ele entrasse no consultório. Não me deixaram acompanhá-lo. Fiquei do lado de fora. Um caroço passou pela minha garganta. Segurei para não chorar.
Até então eu estava tranquila. Não havia me dado conta da gravidade do problema. Pensei que passaria logo e tudo voltaria ao normal, afinal, tínhamos planos para nosso futuro. Mas, infelizmente, eu estava enganada. O problema era bem pior do que eu imaginara. Nossos planos foram frustrados. Existe uma frase que define bem esse momento: Ideias, sonhos e esperanças crescem em nós, e depois são esmagados pela dura realidade.[1]Mas nada passa desapercebido aos olhos de Deus. Nenhuma folha cai sem a sua permissão e todas as coisas cooperam para o bem daqueles que o amam [2]
                                                                         ***
Meu pai estava construindo a casa de um médico cardiologista do hospital Regional de São José (Grande Florianópolis), Dr. Cristiano. Deus tem seus meios de trabalhar, e Ele coloca pessoas em nosso caminho para nos ajudar. Quando meu pai comentou com o doutor sobre meu esposo, ele disse que poderíamos ir até o hospital, pois nos daria uma força.
Fomos até o hospital,  e não precisamos passar pela emergência, onde havia muitas pessoas com malas, travesseiros e cobertores, esperando horas para serem atendidas. Entramos direto, eu, meu esposo, meu pai e minha mãe. Fizemos a ficha dele e depois aguardamos em uma sala. O Dr. Cristiano era bastante influente lá dentro, o que fez com que meu esposo passasse por vários médicos no mesmo dia. O Investigaram de quase todas as formas. Muitos exames foram feitos, e dentre eles, um raio-X do tórax, onde encontraram algo.
                                                                            ***
Eu me sentia insegura vendo todas aquelas pessoas doentes e acamadas pelo corredor. Quase sempre ouvia histórias de como fulano havia sido acometido de um derrame cerebral. Isso tudo me deixava com medo. Medo de andar com ele pelo hospital, medo de descobrir o que ele tinha e medo de não ser forte o suficiente para suportar. Por causa disso, minha mãe entrou com ele no consultório para analisar o raio-X.
Foi encontrada uma manchinha no pulmão. A princípio, poderia ser uma cicatriz de alguma pontada que ele teve quando criança, porém, era pior. Posteriormente, descobrimos através de uma tomografia computadorizada do tórax, múltiplos nódulos pulmonares profundos e moles.
Depois de passar o dia inteiro no hospital, sem alimentar-se direito, meu marido foi internado na emergência. Era preciso investigar o foco da manchinha no pulmão. Meu pai comprou algo para eu comer, e eu disse que gostaria de ficar com ele naquela noite. Meus pais foram embora, e nós, ficamos lá na emergência. Ele em uma poltrona, eu, em uma cadeira comum. Tentei pegar no sono enquanto ele dormia, mas toda vez que fechava os olhos, chegava uma enfermeira para trocar o soro de alguém da sala, ou, chegava algum paciente gritando de dor. Era impossível pregar o olho.
Eu me deitei sobre as pernas dele encolhidas na poltrona e fiquei ali, simplesmente esperando a hora passar, cochilando de vez em quando. Pensei que eu era a pessoa mais certa para estar ali. Pensei no que iria acontecer dali para frente. Imaginei o que ele poderia ter e o quão grave poderia ser sua enfermidade. Podemos pensar em um milhão de coisas em uma madrugada que parece não ter fim. E o fato de estar em uma simples cadeira, era o pior de tudo. Mas eu estava com ele, e isso era o que importava.
Sabe aquele juramento que os noivos fazem no dia do casamento? “Na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença...’’ Pois é, muita gente nem se dá conta do juramento que faz, e na hora da dificuldade, simplesmente  abandonam seu cônjuge. Não que eu esteja me gabando, mas eu sabia qual era o meu papel e o quão importante deveria ser.
"O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.’’[3]
                                                                                 ***
Acordei com minha sogra me chamando, eu havia pegado no sono somente quando clareou o dia, o que não durou nem cinco minutos. Ela disse que eu poderia ir embora e que ela ficaria com ele. Seu olhar estava assustado e com pena por eu ter dormido na cadeira. Despedi-me do meu esposo com dor no coração e um nó na garganta. Não queria deixá-lo ali. Meu sogro me levou para casa.
Voltei para o hospital no dia seguinte. Minha sogra estava com um papel na mão, no qual continham informações sobre os horários das refeições para acompanhantes. Quando olhei para ele, os olhos brilharam ao me ver, e um sorriso surgiu em seus lábios. Ele me contou sobre os exames que havia feito e me mostrou uma pinta de caneta no braço - um tipo de teste para saber se estava com tuberculose ­-  mas o resultado foi negativo.
Após três dias ele recebeu alta do hospital, visto que estava aparentemente bem e não descobriram mais nada sobre a doença. Eu estava em casa quando ele me ligou para dar a notícia. Era perto do meio dia. Fiquei feliz por ele estar vindo para casa, e triste,  por não saber o que ele tinha de verdade. Ficou agendada uma consulta com o pneumologista, para analisar melhor a mancha no pulmão.
Meu pai foi buscá-lo no hospital. Eu e minha mãe ficamos em casa preparando o almoço. Quando chegaram, percebi que ele não estava tão bem quanto pensei que estaria. Na volta para casa, sentiu a pior dor de cabeça de toda a sua vida. Uma pressão terrível. Tiveram que parar o carro para ele vomitar.

2
Os dias até a consulta com o pneumo foram longos. Ele não se alimentava direito e de vez em quando tinha espasmos musculares na mãe esquerda. Não sabíamos o que era, e os dedos começaram a atrofiar. Compramos uma munhequeira pela internet que, sinceramente, não ajudou em nada.
Quando chegou o dia da consulta, fomos eu, ele, minha mãe, minha sogra e meu sogro. Aguardamos com outras pessoas que estavam esperando outros procedimentos. Meu sogro aguardou no carro. Não sabíamos o que aguardávamos. Uma possível biópsia talvez. Minha sogra falava alguma coisa, mas eu não ouvia, estava com a atenção voltada para ele.
Quando chamaram, deixei que minha sogra fosse com ele, em parte porque eu tinha medo. Aguardamos do lado de fora. Algum tempo depois, saíram da sala para uma tomografia do crânio. O médico desconfiou de algo relacionado ao sistema nervoso, por conta dos movimentos involuntários da mão. Eles voltaram da tomografia e entraram na sala. Um tempo depois,  minha sogra saiu da sala com os olhos cheios de lágrimas. Fez um gesto com a mão em formato de um círculo e veio até nós. Contou-nos que ele estava com dois tumores cerebrais. O maior era do tamanho de um maracujá e se localizava na parte frontal do lado direito. O menor, na área motora da mão esquerda, por isso os movimentos involuntários, que na verdade, nada mais eram do que convulsões parciais.
Se havia uma maneira de reagir àquela notícia, eu não sabia qual era. Como se reage a uma notícia assim? De repente, era como se o mundo tivesse parado. Esqueci de respirar, não ouvia e não via mais nada e nem ninguém. Não é incrível como a vida é uma coisa e então, de repente, torna-se outra? [4]Quando me dei conta, uma frase saiu pelos meus lábios, “Ele vai morrer?’’ Minha mãe murmurou algo para me acalmar e consolar, mas sinceramente, eu não ouvi. Eu parecia controlada por fora, mas por dentro, era uma explosão. Explosão de sentimentos e pensamentos. Minha mãe havia perdido seu pai para o câncer. O câncer literalmente tomou conta dele, até seus órgãos não funcionarem mais. E tudo isso me veio a memória. Meu esposo, que eu tanto amava, estava com câncer. Eu não queria acreditar nisso, mas precisava.
Quando contamos para meu sogro, não demorou muito para as lágrimas inundarem seus olhos. Ele estava em choque, de uma maneia que eu nunca havia visto antes. Eu imaginava o que ele estaria pensando, se é que conseguia pensar em alguma coisa. Homem não chora, até o momento de receber uma notícia que abale suas estruturas.
                                                                             ***
Meu esposo foi internado imediatamente. Ele precisava fazer uma cirurgia para a retirada do tumor maior, antes que o mesmo parasse seu cérebro. Os médicos não acreditaram que ele ainda estava andando e falando. Era para ele estar em coma. Fui vê-lo em uma sala de observação e ele estava deitado em uma maca. Quando me viu, começou a chorar, e eu me segurei para não chorar também. Um nó passou pela minha garganta, mas sabia que não deveria chorar. Sabia agora mais do que nunca que precisava ser forte.
Gostaria de saber o que passava pela sua mente naquele momento, talvez milhares de pensamentos, talvez nenhum. Ele me olhava, seus olhos insondáveis inundados de lágrimas. Foi aí que percebi que eu precisaria ser forte. Ele precisava de força, segurança, e eu devia passar isso a ele.Você nunca sabe a força que tem até que a sua única alternativa é ser forte! [5]
                                                                            ***
Nós conseguimos um quarto logo, o que foi um alívio, porque ficar na emergência não é a coisa mais confortável do mundo, além de sempre chegar um pior que o outro, nunca temos sossego. O paciente da cama ao lado era um senhor de idade, que parecia imóvel, respirando por aparelhos. Estava em estado vegetativo. Sua esposa era uma senhora baixa de cabelos curtos e pretos. Seu olhar esgotado e cansado aguardava somente a morte de seu marido. Ela era gentil conosco e sempre nos dava as informações sobre o hospital.
No dia seguinte, logo de manhã, um dos melhores médicos e sua equipe vieram nos visitar. Eles tiraram toda a roupa do meu esposo, procurando por uma pinta. Ele sempre teve muitas pintas escuras e diferentes pelo corpo, mas pelo visto, não encontraram o que procuravam. O médico me chamou para fora do quarto tentando sentir pena de mim, mas era frio. Foi curto e grosso:
- Seu esposo está com câncer maligno e metastático, não sabemos o foco da doença,  mas em breve ele será encaminhado para o CEPON[6], pois precisa de quimioterapia.
- Tem cura?  Eu disse.
- Não tem cura. Seja forte, ok? Respondeu.
Eu não sabia se contava para ele ou não. Imaginei que se o médico havia me chamado para fora do quarto, certamente não era para eu contar. Eu já conhecia tudo isso. CEPON, quimioterapia... CEPON é um Centro de Pesquisas Oncológicas para tratamento de pacientes com câncer. Meu avô havia ficado lá, esperou por uma quimioterapia que nunca foi feita, pois não havia mais jeito. Eu não conseguia esconder dele o que o médico disse. Ele queria saber, e se eu estivesse no lugar dele, também não gostaria que me escondessem. Então falei.
3
Um tempo depois mudamos de quarto. O outro quarto era excelente. Sua cama ficava ao lado de uma janela grande e ventilada que dava para o estacionamento. Era um dos melhores quartos. Especial para pacientes que estavam se recuperando da cirurgia. Nós ficamos ali exatos 32 dias esperando pela cirurgia. O mês mais comprido de nossas vidas. Parecia na verdade, um ano. Muitas pessoas da família e amigos iam visitá-lo. Lembro-me de uma vez que foi tanta gente para visitá-lo, que a maioria não conseguiu entrar. Observávamos eu e ele pela janela. Ele acenava. Realmente muitas pessoas estavam comovidas. Foi incrível receber o carinho de tantas pessoas que nem imaginávamos conhecer. Ganhamos muitos amigos especiais que não teríamos conhecido se nada disso tivesse acontecido.

Nós revezávamos para ficar com ele no hospital. Não que ele precisasse, mas era bom ter uma companhia. Levamos uma cadeira de praia grande que deitava e forramos com cobertores. Era inverno. Se eu tinha casa nem lembrava mais. Só ia para casa para tomar banho e passar a noite quando era o dia de outra pessoa acompanhar ele. O hospital era bem longe de casa, mas meu pai me levava todos os dias. Ele nunca reclamou, pelo menos não para mim, mas imagino que gastava horrores de gasolina.
Nossa vida estacionou. Eu estava de férias do colégio. Era julho. Quando as aulas retornaram , eu não voltei para o colégio(Depois que tudo passou, concluí meus estudos). Sinceramente, não conseguia pensar em mais nada. Eu gostava de ir para o hospital, por mais que pareça estranho. Eu gostava pelo simples fato de ficar com ele. Era o que me animava. Sempre quando eu chegava ao hospital, ele estava me esperando com um sorriso no rosto. Como ele poderia sorrir? Eu não compreendia, mas gostava de vê-lo assim. Pensei que ele poderia viver mal humorado e reclamando da situação, pois é o que muitas pessoas fariam no lugar dele, mas não, ele não reclamava, e estava mais confiante do que qualquer um.
Admiro a maneira como ele se esforça para agradar a Deus. E sei o quanto ele sofre por isso. Na vida fazemos escolhas que podem ser decisivas para nosso futuro. Ele escolheu adorar a Deus ao invés de reclamar, e Deus ia trabalhando enquanto isso. Ás vezes, Deus permite certas coisas em nossas vidas,  para que assim, venhamos ter mais intimidade e experiência com Ele, e aprendamos a viver na dependência dEle. Pode ser que não entendamos no começo qual é o propósito dEle, pois só enxergamos o visível, mas Deus enxerga além. Ele é soberano!
Deus não faz nada sem propósito. Ele fez cada um de nós com um propósito específico em mente. Ele também prometeu trabalhar em nós para cumprir esse propósito. É essa promessa que me faz continuar na Casa da Esperança. Muitas vezes não conseguimos realizar o que Deus nos chamou a fazer. Esses são os momentos quando ele nos chama para ser mais íntimos dele. Ele nos mostra as áreas que necessitam de aperfeiçoamento a fim de que possamos caminhar em obediência a seu propósito para nossas vidas. O propósito de Deus para nós é que cumpramos sua perfeita vontade.[7]
Nós nos divertíamos muito no hospital. Ele queria comer de tudo, então sempre levávamos algo para ele comer, além da janta do hospital. A sua mãe levava lasanha, meu pai levava pizza e ás vezes lanche. Ficar sem fazer nada quase o dia todo dá fome. Meu pai levou uma TV para o quarto, então, assistíamos de vez em quando. Ás vezes lia algum livro. Mais tarde, levamos um notebook, mas a internet não funcionava direito.
O primeiro paciente que ficava na cama ao lado falava a beça. Até que nos distraía. Havia passado por uma cirurgia há pouco tempo. Sua esposa, baixa, cabelos curtos e louros, sempre me acompanhava nas refeições do imenso refeitório. Logo ele foi embora. O segundo paciente era um tanto engraçado e vivia nos elogiando e admirando. Ele tinha hérnia de disco na coluna e também aguardava por uma cirurgia. Posteriormente ele ficou bem mal. Não conseguia caminhar direito, e depois que saiu do hospital, ficamos sabendo que foi para a cadeira de rodas. Tornamo-nos bem próximos dele e dividíamos as “gordices”.
                                                                            ***
O aniversário do meu esposo foi comemorado no hospital, dia 31 de Julho. Levamos bolo e fizemos uma festinha para ele que, aparentemente, ficou feliz e satisfeito por estarmos ali. Mas lá no fundo só Deus sabe o que ele sentia por dentro. Se estava preocupado não demonstrava. Ele nos animava, e eu tinha prazer de estar com ele, acho que todos sentiam o mesmo.
Parte 2
  Depois da Cirurgia
4
O dia da cirurgia parecia que nunca ia chegar. Aguardávamos por um leito da Unidade de Terapia Intensiva U.T.I, porém, sempre chegava algum paciente acidentado e ocupava o leito. As articulações do meu esposo começaram a enformigar. O médico neurologista, Dr. Igor, médico muito amigo dos pacientes, disse que dali para frente aconteceria isso, enquanto a cirurgia não era feita. O médico disse também que o tumor estava tão ajustado ao seu cérebro que não permitia nenhum tipo de incidente como derrames cerebrais ou perda de consciência. Imagino que qualquer movimento poderia ser fatal!
Ele trouxe um termo de consciência para meu marido assinar sobre os possíveis riscos da cirurgia. Dentre eles, estava a possibilidade de seu lado esquerdo ficar completamente paralisado. Poderia perder a fala, a visão e até mesmo não resistir a cirurgia. Por outro lado, se a cirurgia não fosse realizada, ele perderia seus movimentos aos poucos, até que o tumor tomasse conta do seu cérebro. A cirurgia precisava ser feita, e logo.
                                                                                  ***
Então, no dia 12 de agosto, uma segunda-feira, ele foi chamado para a cirurgia. Eu, minha mãe e minha sogra, o acompanhamos até a área restrita. Eu me despedi dele sabendo que poderia ser a última vez. Ele parecia confiante, mas com medo. Foi a espera mais longa da minha vida. Esperar enquanto abrem a cabeça da pessoa que você ama não é uma espera muito confortante. Eu falei com Deus, fiquei um pouco no quarto dele e depois voltei para sala de espera. Era uma manhã cinzenta para mim, mesmo sem eu ter visto o dia lá fora, tudo parecia nublado. Apesar de tudo eu estava confiante. A fé é o firme fundamento das coisas que não se vêem, mas se esperam[8].
Ás 10:30, a senhora da recepção avisou que a cirurgia havia terminado, então poderíamos ver ele saindo do centro cirúrgico e se encaminhando para a U.T.I. Ele ainda estava sob efeito da anestesia geral e com a cabeça enfaixada. Não sabia que estávamos ali, mas eu o vi, e ele estava vivo, respirando, era o mesmo, e eu agradeci a Deus. Pouco tempo depois o médico cirurgião, Dr. André, homem calvo e de poucas palavras, passou por nós. Estávamos aflitas para saber como havia sido a cirurgia, e ele disse que foi um sucesso. Agradeci mais uma vez. Ele nos entregou o material coletado, que posteriormente levamos para a biopsia. O resultado infelizmente foi o que o médico esperava, e segundo ele, era o pior tipo de câncer; Melanoma maligno secundário e metastático, estágio 4.  Metastático porque se espalha, através do sangue, por outras partes do corpo.
Melanoma  é um tipo de tumor maligno originário dos melanócitos (células que produzem pigmento) e ocorre em partes como pele, olhos, orelha, trato gastrointestinais membranas mucosas e genitais. Um dos tumores mais perigosos. O melanoma tem capacidade de invadir qualquer órgão, criando metástases, inclusive no cérebro e coração. Portanto é um câncer com grande letalidade.[9]
                                                                               ***
Quando saímos do hospital ficamos em um círculo no estacionamento. Estávamos felizes e realizados, porém, cansados. Foi a primeira vez que todos foram para a casa descansar. Era um alívio saber que ele estava bem e que uma parte do processo havia sido concluída. Mas, para nossa tristeza, no dia seguinte, recebemos uma ligação do hospital informando que ele havia passado por uma complicação. Eu e minha mãe saímos às pressas de casa. Fomos de ônibus, o que tornou a viagem mais demorada e angustiante, visto que meu pai estava trabalhando.
Assim que chegamos, uma enfermeira nos informou que ele teria feito uma nova cirurgia devido a um coágulo de sangue. O dreno não cumpriu seu papel corretamente. Ela com um olhar de pena falou: “Foi horrível e ele entrou em coma.”  Ele teria forçado de mais o cérebro na noite anterior mostrando que continuava movimentando pernas e braços. Resolveram que ele deveria ficar em coma induzido para descansar. Aguardamos na sala de espera ele voltar da U.T.I. Uma espera torturante.
Ver ele para mim naquele dia foi uma das coisas mais terríveis que já presenciei. Ele estava lá, imóvel, respirando por aparelhos. A cabeça enfaixada e completamente inchada. Se existisse uma maça roxa, compararia seu olho direito com uma. Seu rosto e pescoço estavam  roxo e inchados. Eu não sabia o que falar, e se devia falar. Será que ele me ouvia? Pensava. Fiquei ali, simplesmente olhando todos aqueles aparelhos, olhando seu rosto que não parecia o seu rosto. Seu corpo nu coberto por um lençol. As lágrimas caíram do meu rosto sem que eu percebesse.
Na quarta-feira a noite ele foi acordado. Então poderíamos vê-lo e conversar com ele, apesar de que ele não conseguia falar nada direito. A língua estava muito enrolada. Ele perguntou que dia era e concluiu que teria dormido dois dias inteirinhos. A sua irmã que foi vê-lo, disse que ele não estaria falando coisa com coisa. Os efeitos da anestesia ainda eram muito recentes. Na quinta-feira eu o acompanhei na volta para o quarto. Ele continuava roxo e inchado. Ao meu ver teria emagrecido 10Kg. Era só pele e osso. Seus olhos estavam fixos em mim durante todo o trajeto.
Quando chegamos no quarto, ele começou a falar comigo a respeito de um tio que estava preso e havia sido solto. Eu me apavorei no mesmo instante e saí correndo pelo corredor. O enfermeiro João, muito querido por sinal, me atacou pelo corredor e me acalmou. Ele estaria louco? Pensei. Ai meu Deus! Demorou um pouco para eu compreender que era normal.
                                                                                ***
Aqueles dias seguintes foram de aprendizado para ele e com certeza para mim também. Ele aprendera tudo novamente, a falar, a caminhar. Eu ajudava a enfermeira a trocar as fraldas e a dar banho de gato. Os primeiros alimentos líquidos foram na ceringa e eu tremia de medo de afogá-lo. A cabeça pendia para o lado com o peso. Sem sombra de dúvidas foram dias de tensão. Eu mal conseguia dormir, com medo do que poderia acontecer. Conversamos com a enfermeira chefe e ela autorizou dois acompanhantes para ele, afinal, eu ainda era menor de idade.
Certa vez ele teve um pesadelo. Sentiu que algo lhe sufocava. Acordou assustado e respirando ofegante. Perguntei-lhe se estava bem. Ele perguntou quem estivera em pé ao lado dele. Mas eu sabia que ninguém estivera ali. Como eu só cochilava teria acordado se alguém aparecesse no quarto, e não havia paciente na cama ao lado. Segundo ele parecia tão real!
O médico recomendava, em suas visitas diárias, que ajudássemos ele a caminhar, afinal, já fazia alguns dias que estava sem caminhar. Assim que meu pai foi visitá-lo, pedimos a ajuda dele. Estávamos quase todos lá, eu, meu pai, minha mãe e minha sogra. Meu esposo vestia uma frauda e uma cueca azul somente, ainda não conseguia se locomover para o banheiro. Ele começou a caminhar se apoiando no meu pai. Deu alguns passinhos e fez sinal para ir em frente mas não suportou. Sua pele empalideceu, o olho virou e as pernas enfraqueceram. Percebi o quanto ele estava magro.
Meu pai imediatamente o tomou pelos braços, chutou a escada de subir na cama e eu, sem saber ao certo como reagir, segurei a cabeça dele que pendia com o peso. O apoiamos na cama e rapidamente percebemos a presença de alguns enfermeiros. Colocaram as pernas dele para o alto, o que se faz quando a pessoa desmaia, e mediram sua pressão. Devagar, a cor foi voltando para seus lábios e pele. Então, eu lembrei que respirava. Minha mãe e minha sogra ficaram totalmente sem reação. Sei disso porque elas contam, não que eu tivesse visto alguma coisa. Ele teve uma queda de pressão, visto que estava muito fraco e há dias não caminhava.
                                                                                ***
Assim, os dias foram passando. A cada dia, um novo aprendizado, uma nova experiência. Após cinco dias de cirurgia, especificamente no domingo, que eu estava em casa, recebemos uma ligação do hospital. Lembro-me que estava dormindo no quarto dos meus pais. Tinha medo de dormir sozinha, e o quarto deles era onde eu me sentia segura. Quando recebemos a ligação esperávamos o pior. Meu pai atendeu, era a tia do meu esposo que o acompanhava naquele dia. Eu e minha mãe não escutávamos absolutamente nada do outro lado da linha, quase não aguentamos de tanta ansiedade e preocupação. Meu pai dizia alguma coisa do tipo: “Mas como?”,  “Eu não entendo”, ’’Esse médico é louco!’’
A novidade é que ele estava de alta. Eu não acreditei. Na hora gritei, pulei, chorei, sorri. Foi um alívio saber que ele viria para casa, mas ao mesmo tempo muito preocupante. Ele ainda estava muito debilitado. Não sabia como poderíamos cuidar dele em casa. Segundo a tia, ele teria tomado banho no chuveiro com o auxílio de uma enfermeira. Eu não conseguia acreditar, pois no dia anterior ele mal conseguia parar em pé. Quanto progresso!
Meu pai e meu tio foram buscá-lo no hospital. Eu e minha mãe ficamos limpando a casa. Não nos sobrava tempo para limpá-la. Higienizamos o quarto e banheiro com álcool, afinal, a cirurgia dele era muito recente e o risco de infecção era grande. Minha mãe cuidou do almoço enquanto eu concluía o serviço. Eu estava tão feliz. Só em saber que teria ele em casa comigo era maravilhoso. Além disso, naquele mesmo dia completávamos 1 ano de casados. Que presente!
Quando ele chegou tomei um susto. Acho que me esqueci do quanto ele estava debilitado. Mal conseguia andar. A cabeça parecia um balão, coberta por uma faixa. O rosto e pescoço ainda estavam bem inchados. Mas ele estava ali, e isso era o que importava. O sentamos no sofá e tiramos uma foto com os mimos que recebemos dos meus pais por 1 ano de casados, e por ele estar em casa. Ganhamos um bolinho e um joguinho de xícara de café. Almoçamos, conversamos e rimos. Foi um momento incrível.
A tia dele nos deu a recomendação necessária sobre os remédios que ele teria que tomar. Era uma tabela grande. Minha mãe cuidou disso porque eu, sinceramente, não queria sair de perto dele. Era como se quisesse aproveitar cada momento. Era tudo muito novo para mim. Uma experiência e tanto. Fui sua enfermeira, nutricionista, conselheira, e tudo o quanto tive direito por um bom tempo. Foi aí que aconteceu.
5
A coisa toda foi assustadora. Eu poderia poupá-los dos detalhes, mas não seria justo. Também não gosto de lembrar ou falar sobre isso, mas se faz necessário. Todos os dias acordávamos às 06:00 horas para ele tomar um dos remédios. Certo dia, quando acordamos, o braço esquerdo dele começou a se mexer involuntariamente novamente. Das outras vezes, os espasmos eram somente no braço e por um curto período de tempo, mas dessa vez foi diferente. Já não era somente no braço, subiu para o ombro, pescoço, cabeça, e em um segundo seu corpo todo estava se contorcendo.
Eu me apavorei num piscar de olhos e gritei pela minha mãe que desceu a escada em um corridão. O deitamos na cama e tentamos virá-lo de lado. Minha mãe sabia o que fazer. Porém, os movimentos involuntários e seu corpo rígido não permitiam que o virássemos. Eu gritei pelo meu pai que apareceu logo em seguida. A essa altura eu já estava chorando, gritando e clamando a Deus para que interferisse naquilo. Foi um desespero! O chamávamos, porém,  não havia resposta. Seus olhos estavam virando e percebemos que ele não conseguia respirar, e sim, se afogava com a própria saliva. Meu pai dizia: “Ele está morrendo!’’
Foi quando conseguimos vira-lo de lado que começou a reagir, então urinou. Geralmente quando a pessoa urina é porque perde o controle do corpo, e isso ocorre quando falecemos. Não sabíamos ao certo se ele estaria reagindo de fato ou se teria apagado. Eu avisei que não seria fácil falar sobre isso. Realmente é angustiante. Aquilo era uma convulsão. A pessoa perde total controle do corpo, por isso, em alguns casos, urina. Só o que se deve fazer é virar a pessoa de lado para que não se afogue com a própria saliva.
Meu pai empurrou a mesa da sala que ficava na passagem para a porta. Pegou-o pelos braços e o colocou no carro no banco da frente. Os movimentos já haviam parado, mas parecia que estava inconsciente. Naquele mesmo dia, a tarde, teria uma consulta com o neurologista do CEPON, Dr. André. O hospital Regional já havia encaminhado ele para lá. Direcionamo-nos para a emergência do CEPON. Minha mãe sabia o que fazer, por ter passado um tempo com o pai que faleceu de câncer.
No caminho ele voltou ao normal e até falou com a gente. Disse que ouviu chamarmos ele, mas não conseguia responder. UFA! Realmente foi um susto que graças a Deus passou. No hospital não havia muito o que fazer além de exames. Ele já estava se sentindo muito melhor e logo a tarde teria a consulta. Ficou repousando na cama. A faixa que estava envolvendo a sua cabeça, havia caído na hora da convulsão, e sua cicatriz de 25 pontos estava á mostra, o que não era uma coisa muito bonita de se olhar.
Há algo que eu também poderia poupá-los, mas dessa vez, é algo engraçado, se é que há algo de engraçado nisso tudo. Depois de o susto passar é que eu e minha mãe reparamos que estávamos de pijama. Eu não tinha ido ao banheiro, não havia lavado o rosto e nem escovado os dentes. Eu sei que isso é nojento. O fato é que na hora do ocorrido não conseguimos pensar em nada. Só pegamos os documentos dele e fomos correndo para o hospital do jeito que estávamos, de pijama. Então senti frio. O dia era cinzento, nublado e gelado.
Isso tudo foi de mais para mim. Ele esteve entre a vida e a morte. O medo que eu tinha, a partir daí se multiplicou, e por um longo tempo. Eu temia que aquilo pudesse acontecer novamente. Temia estar sozinha com ele e acontecer. Não gostava de sentir medo, mas era inevitável.
                                                                                 ***
Na consulta da tarde , o neuro pediu que meu esposo fosse tirar os pontos da cirurgia. Ele começou a ter os espasmos novamente e eu saí da sala falando que não queria nem ver. O médico falou para chamar a enfermeira, e eu saí gritando para quem quer que aparecesse na minha frente. Mas não encontrei uma enfermeira. Por sorte logo passou. O primo dele foi visitá-lo, então ele acompanhou meu esposo na retirada dos pontos da cirurgia em uma sala. Eu e minha mãe ficamos com o médico no consultório. Compreendemos que ele queria ficar a sós conosco. O que ele precisava falar, não poderia ser na presença do meu esposo, e isso me causava náuseas.
O médico explicou que ele estava muito doente. Explicou que começaria um tratamento, mas que costumava não responder ao tipo de câncer dele. Só não desenganou por meu esposo ser jovem. Imagino que em um senhor de idade nesse caso, não haveria qualquer possibilidade de se iniciar um tratamento. Dirigiu a palavra para minha mãe dizendo: “Vai preparando a família.’’ E fitou em mim. Eu sabia o que ele estava querendo dizer. Minha mãe perguntou quanto tempo de vida ele tinha. O médico não queria falar e insistia dizendo que poderia se enganar pelo fato de ele ser jovem. Por fim, depois de tanto insistirmos, ele sugeriu dois anos de vida.
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Ele foi internado e fez uma radiocirurgia para secagem do tumor menor da área motora da mão. A radiocirugia é um procedimento que permite uma cirurgia cerebral sem a abertura do crânio, por meio de feixes de radiação. É uma técnica usada pra destruir, por meio de dosagem precisa de radiação, tumores intracranianos que poderiam ser inacessíveis ou inadequados para cirurgia aberta.
 Ficou internado 16 dias no CEPON, até que recebeu alta. Durante o período de internação, foi acompanhado por uma equipe oncológica e a Dr. Cecília, uma jovem bonita de cabelos louros, um amor de pessoa. Raspamos a cabeça dele antes que o cabelo começasse a cair por conta da quimioterapia, apesar de que após ter feito a quimio seu cabelo não caiu. Devido a cirurgia, uma parte da sua cabeça estava raspada e outra não, o que era bem engraçado. Ficou bem melhor depois.
Após ter alta, passou a ser acompanhado semanalmente pela Dr. Lizana, uma onco absurdamente querida, cabelos pretos e curtos, alta e de corpo largo, que cuidava de pacientes com a mesma faixa etária dele. Ela tratou dele com quimioterapia. Na primeira consulta ficamos bem confusos. Eu preferi que minha mãe entrasse com ele. Como só era permitido 1 acompanhante por vez, eu e meu pai aguardamos do lado de fora. Demorou muito para chamarem, foi quando troquei de lugar com a minha mãe que resolveram chamar.
A médica deu vários papéis de exames, consulta de retorno e encaminhamento para quimio que eu nem sabia o que fazer. Quando avistei minha mãe joguei na mão dela e ela cuidou de tudo. Após a consulta ele fez a quimio. Até hoje não me perdôo pela minha insegurança. Vale constar que depois de um tempo, eu meio que me acostumei com tudo. Cuidava de tudo já. Não dependíamos mais de ninguém, ele voltara a dirigir e eu passei a me sentir bem mais segura. Mas até o momento, eu estava me adaptando. Apesar de tudo, sempre fui forte e tive fé. Somente esperei em Deus e confiei. Sabia que aquilo tudo ia passar, era só uma fase de experiências.
Os efeitos colaterais da quimioterapia não são boa coisa. Além do enjôo a imunidade baixa, então o corpo fica propenso a qualquer tipo de enfermidade. Certa vez, ele teve início de pontada. O levamos para o CEPON com 39° de febre. Então ficou internado por mais 6 dias. Ele não queria ir, pois sabia que ficaria internado. Não foi nada grave, visto que descobrimos no começo. Tomou os antibióticos e logo recebeu alta.
As consultas e quimio passaram a ser mensalmente, acompanhadas de inúmeros exames. Depois de ele ter feito 5 quimioterapias, os médicos concluíram que não estariam fazendo o efeito esperado. Os especialistas em melanoma fizeram uma pesquisa e descobriram uma medicação nova e muito eficaz, mas só era possível conseguir por meio de uma ação judicial, visto que ainda não era usada em Santa Catarina. Meus pais procuraram o vereador Dalmo e seu advogado, e entraram com a ação judicial. Com a graça de Deus conseguimos o vemurafenibe.
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O tratamento com o vemurafenibe, acompanhado da mão protetora de Deus,reverteram o quadro clínico dele. Os médicos passaram a vê-lo por outro lado. Os tumores do pulmão diminuíram, e pela tomografia só constava 1, onde antigamente encontravam-se múltiplos. O tumor tratado pela radiocirurgia, por consequência, diminuiu, e tudo estava se encaminhando perfeitamente. Incrível a maneira como tudo foi se encaixando no devido lugar com a graça de Deus. Eu só posso agradecer a Ele todos os dias da minha vida, e ainda é pouco. Quem somos nós para questionar o querer dEle? Nosso fôlego de vida é dEle!
Seguimos um tempo com o vemurafenibe, até que novos tumores surgiram na cabeça. Foram mais dois. Não ao mesmo tempo. Primeiro um, depois outro. Foi feito novamente radiocirugia, e duas. Uma pior que a outra, cada vez mais torturante. A última que ele fez  até o momento, sinceramente, pensei que não fosse suportar. A única desvantagem da Radio, é o capacete que segura os demais aparelhos, que é parafusado diretamente na cabeça. São quatro parafusos, o que causa uma tremenda dor de cabeça. Mesmo com a anestesia local, a dor é inevitável.
Confesso que também senti a dor. Não dor física, uma dor interior ao ver ele naquele estado.  Depois de um tempo com o capacete quase não suportou de dor. Vomitou e a pressão foi lá em baixo. As enfermeiras ligaram um aparelho para medir a velocidade dos batimentos cardíacos. Ouvir o som do seu coração bater foi algo extremamente angustiante para mim. Era como se a qualquer momento pudesse parar de ouvir. Seguiu-se o silêncio na sala. Somente o som do seu coração. Isso me causou um terrível embrulho no estômago. Deixei a sala e fui dar uma volta do lado de fora do hospital. Foi bom pegar um ar.
Como o esperado, as radiocirurgias fizeram efeito, e os tumores foram diminuindo, apesar de não estarem muito avançados, já que foram descobertos no começo. Ele começou um tratamento novo no lugar do vemurafenibe. É uma quimio via oral com o dabrafenibe e trametinibe, que prometem ótimo resultado na parte neurológica, já que a parte do pulmão estaria controlada. Realmente notamos uma boa melhora no quadro dele. O importante é que o tratamento não permita surgimento de novas lesões e estabilizava os tumores que já existiam. E quando eles diminuem, é um bônus e tanto.
Passaram-se três anos e ele permaneceu vivo para a Glória de Deus. E assim vamos levando. Hospital, consultas, exames... Temos uma vida normal, fazemos coisas de pessoas normais, mas vivemos a cada dia na dependência de Deus, permitindo que a sua vontade seja feita, vencendo a cada dia o seu mal, aproveitando cada momento para agradecer. Tivemos fé... Foi o suficiente!


Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.
Hebreus 11:1



[1]O diário de Anne Frank – 1997
[2]Romanos 8:28
[3] 1 Coríntios 13:4-7

[4] Se eu ficar Gayle Forman - 2014

[6] Centro de pesquisas oncológicas - CEPON
[7]Trecho retirado do livro Bíblia da Mulher de fé, de Sara Trollinger.

[8]Hebreus 11:1.
[9] http://www.minhavida.com.br/